segunda-feira, agosto 08, 2005

VISITA AO FONTELO DO VIRIATO E DO MEU AMIGO D. ANTÓNIO ALVES MARTINS. (escrito pelo ilustre comentador deste blog, VIRIATO)

Como prometido fui uma destas manhãs, no domingo passado, visitar o Fontelo e consegui convencer o meu amigo o ex-Bispo de ViseuI., D. António Alves Martins a acompanhar-me. De início estava relutante e desculpou-se com a sua artrite, por fim lá fomos subindo do seu jardim na Santa Cristina, um dos melhores da nossa cidade e que ainda mantém as características que o diferenciam dos jardins modernos e baratos de manter de que a C M Viseu tanto parece gostar, em direcção ao Fontelo.
Depois de passado o portal da Quinta de São Miguel deparámos com a estrada bastante deteriorada, por motivo das obras com o gás natural e com uma rotunda muito bem cuidada mas, o Portal da Cerca estava desfigurado com dois cartazes e duas floreiras. Que mau gosto ... D. António começou a mostrar descontentamento...
Passado o portão da Avenida José Relvas e logo à direita, observámos as obras do novo campo de Futebol de 7, das Piscinas e do Campo 1º de Maio, obras importantes mas há já muito tempo devidas, feitas ao sabor dos ciclos eleitorais e de interesses de terceiros. D. António voltou a agitar-se ...
À direita as sebes estão muito mal tratadas e por aparar, não existem instalações sanitárias e como a bexiga do Senhor Bispo já não é o que era...
Os jardins e canteiros estão esquecidos, foram há pouco instalados novos caixotes, em madeira, para o lixo, o parque das merendas apresentava-se varrido e limpo, faltava porém água, a da bica parecia de qualidade duvidosa, pouca e o tanque estava muiíssimo sujo. Faz muita falta a barraca que até a pouco vendia bebidas, refrescos, gelados e alguns alimentos. Ao meio-dia as mesas estavam apinhadas de gente, excursionistas de passagem que aproveitavam a sombra. Também um gato, grande, gordo, preto e malhado se passeava por ali à procura de comida e de algumas festinhas.
O Pavilhão Desportivo, uma das vergonhas da Câmara, será remodelado em breve ? Os taludes estão muito maltratados, os cedros a precisar de limpeza e ao lado, junto à Associação de Futebol de Viseu e já na Quinta de São Miguel, situa-se uma pequena lixeira e as casas de banho...que são ao ar livre.... é só saltar o muro para gozar de alguma privacidade !
Entrando na mata e subindo à direita foi possível ver pedras a esmo, garrafas, embalagens variadas, excrementos humanos, mais lixo e caminhos em mau estado. Na mata que foi invadida pelas heras ou está coberta de folhas e lixo, fica tudo: árvores secas e quebradas, ramos partidos, secos, cepos de árvores e restos de alguns raros trabalhos de “limpeza”. Não descortinámos árvores novas e cuidadas. As mortas e doentes não são abatidas, nem substituídas, caminhos limpos e varridos só como se diz, “onde passa a procissão”.
Silvas e outros invasores podem ser facilmente encontradas, à esquerda de quem sobe, na zona que antecede o portão que dá para a estrada de Mangualde. Os pequenos lagos que existem mais abaixo estão muito sujos e os peixes são muito poucos.
À medida que descíamos para o Largo de São Jerónimo, o Senhor Bispo mostrava-se cada vez mais indignado e já começava a brandir o bastão a que se arrimava.
No largo vimos os restos de velhos carvalhos que ficaram a “servir de enfeite” no meio do alcatrão e duas árvore novas, as únicas que denotavam alguma intervenção humana.
A Fonte de São Jerónimo, local de boas recordações de D. António, encontrava-se suja, com teias de aranha e com a fonte e o tanque com aspecto desleixado. Por ali vivem duas pequenas e esquivas rãs que apanhavam banhos de sol e fugiram, para de baixo de uma lage, logo que nos avistaram. Beber, nem pensar... demasiada sujidade e se não houver cuidado é trambolhão pela certa.
No recente e moderno bar mudaram a posição do balcão e é agora mais fácil aceder à única casa de banho, legal, existente em todo o parque.
Junto da Glorieta a Grão Vasco, onde apreciámos uma boa reprodução em azulejos da sua obra prima – o quadro São Pedro, vimos que foram feitos alguns trabalhos de restauro mas continua a haver lixo. Algumas papeleiras existentes nessa zona foram vandalizadas e ainda não substituídas.
O Parque Infantil foi remodelado e tem o acesso mais facilitado, pela nova calçada em cubos de granito e um corrimão em metal. Colocaram também uma grade de madeira junto ao parque para garantir a segurança dos utilizadores.
Finalmente estão a proceder à reposição da calçada, junto ao muro nascente do estádio, trabalho que deveria ter sido feito há muitos anos, de saudar as flores que estão a plantar ao longo do caminho.
Na zona em ruínas onde em tempos existiu um cercado que guardava um lobo, um pombal com rolas e outras aves e onde no Sec. XVI, no tempo do bispo D. Miguel da Silva (1525-1540), teriam existido passareiras, com aves raras e exóticas que eram motivo de admiração para toda a Europa, pontifica hoje o desleixo e a desolação .
Quanto à operação de limpeza das heras. É uma boa iniciativa porém está a ser mal executada, é necessário cortar no solo as heras em redor do tronco e não apenas cortá-las no tronco e afastá-las um pouco. Estas tarefas devem ser efectuadas com frequência para se obterem alguns resultados.
De seguida fomos visitar o antigo jardim do Paço e confirmámos que está muito diminuído pelas amputações efectuadas para construir os campos de ténis, o ringue, viveiros e estufas. Apesar de tudo ainda mantém muito do encanto do traço renascentista de Francesco de Cremona, arquitecto que D. Miguel da Silva trouxe de Roma, cidade onde foi embaixador, tendo como amigos o Papa Leão X e o genial pintor Rafael. Foi este Bispo, mais tarde Cardeal que encomendou a Vasco Fernandes, Grão Vasco, os retábulos da Sé.
Do jardim passámos ao antigo Paço Episcopal de Viseu, o Senhor Bispo comoveu-se e gostou do que viu.
A recuperação do antigo Paço, da capela de Santa Marta e dos anexos agradaram-lhe muito. Vi um brilho nos seus olhos, belo trabalho! Disse comovido.
Depois foi uma chatice, o meu amigo viu o que andam a fazer no lameiro da quinta, falo da Avenida Engº Messias Fuschini, ficou furioso com tal palermice, levantou o bengala e fazendo juz a sua fama de agressivo e justiceiro disse:
Vou buscar o marmeleiro e vou desancar os porcos, sujos, ignorantes e esbanjadores que são os responsáveis por todos estes desmandos!
Tive dificuldade em segurá-lo! Queria ir logo dar umas arrochadas, ficou tão furioso e fora de si que pensei que ia morrer outra vez!
Viseu, 8 de Agosto de 2005
SOU DE BRONZE, MAS NÃO SOU BURRO!